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quinta-feira, 25 de maio de 2017
quarta-feira, 24 de maio de 2017
24 e 25 de Maio - Dia de Santa Sarah Kali
Assim como sua mãe havia lhe ensinado todos os dias,
ela orava a Deus olhando o sol, as plantas, os animais e, principalmente, as
pessoas de seu vilarejo. Todos os dias ela vestia seu melhor sare acompanhado
por muitas jóias e flores no cabelo longo. Todos os dias ela preparava os mais
deliciosos quitutes, doces e chás para sempre ouvir o pai dizer: “Como eu te
amo minha filha, você foi o melhor presente que sua mãe me deixou e se um dia
eu morrer como ela, eu tenho a certeza que você já sabe se cuidar. Pois nascemos
e morremos sós”.
No começo Sara ficava emburrada, mas depois ia abrindo
um sorriso franco para as palavras do pai, afinal ninguém pode transpor os ciclos
das reencarnações sem passar pela morte.
Um dia, a guerra chegou avassaladora e levou todos os
homens. As mulheres choravam muito e as crianças também pelas duvidas de um
novo alvorecer.
Ao entardecer dos dias que se seguiram, mentes e
corações sempre se uniam com as preces para um mundo em paz.
Demorou um pouco, a paz retornou, mas trouxe consigo com a
escravidão, poucos homens sobraram, as mulheres e as crianças foram levadas sem
grilhões e amarras, todos guiados por caravanas e depois uns poucos barcos.
Alguns dias de viagem, um novo horizonte, outra
margem, um velho vento e os mesmos murmurinhos.
Uma menina da mesma idade de Sara invadiu o escale,
deu lhe uma rosa branca e partiu. Era um sinal de muita sorte e Sara agradeceu
a Deus, se ajoelhando e orando forte e silenciosamente não só por si, mas por todos ali.
Uns poucos instantes depois, a menina que trouxe
esperança a Sara, trouxe consigo seu pai, Sara lhe deu uma pulseira linda
tirada do pulso esquerdo e os três foram para Magdala.
De longe Sara foi se despedindo observando bem as
águas do rio Nilo, os verdes papiros, os barcos e seus vizinhos de infância.
Sara caminhava vitoriosamente sorrindo, pois Deus voltava a sorrir sorte para
seu povo e principalmente para o seu futuro. A outra menina também sentia o
mesmo, seu nome é Maria Madalena.
Em Magdala, não havia uma só pessoa que não falasse
que Sara e Maria Madalena não eram irmãs. O pai de Maria não deixava que fosse
feito de outra forma. Elas recebiam os mesmos cuidados, carinhos, tarefas, disciplinas
e respeito.
Na casa de Maria Madalena não havia escravos, mas sim
funcionários que trabalhavam e por isso tinham um salário no fim de cada mês. E
eles independente de qualquer coisa sempre ajudavam os próximos.
Infelizmente, tudo muda e o dinheiro também. O querido
pai morreu deixando algumas dívidas.
Sara e Maria Madalena vendem as jóias e as
propriedades na esperança de dias melhores. Ambas estão pobres e determinadas.
Ambas lutam. Ambas vencem. Ambas continuam ajudando os menos afortunados.
Desabrocham rapidamente. Madalena se prostitui e Sara
sai fazendo trocas e barganhas. E o que haviam perdido ganham em dobro.
Uma noite, surgi à luxuosa porta uma leprosa curada, agradecendo
uma moeda dada com amor no meio do caminho por Madalena, ela conta que o
Nazareno está a poucos metros dali. Ambas se olham, Sara cobre Maria Madalena e
elas vão encontrar o Rabino.
Chegando lá, Ele as recebe de braços abertos. Madalena
chora muito pedindo perdão pelo rumo que deu á sua vida. Sara traz uma
jarra de azeite. Madalena lava os pés de Jesus com as lagrimas e seca com os
longos cabelos. Sara abençoa Jesus urgindo-o com azeite na testa.
Maria Madalena torna-se
um dos três discípulos a receber ensinamentos especiais, elogiada acima de
Mateus e Tomé. Dizia-se que "ela falava como mulher que conhecia o
Todo". E Sara continua sempre ao seu lado dando apoio, ouvindo conselhos e
conciliando.
Mais tarde, Sara admite a Jesus que não ousa falar a
ele livremente porque, segundo suas palavras: "Pedro faz-me vacilar, tenho
medo dele porque ele repudia as criaturas femininas". Jesus responde que
quem quer que o espírito tenha inspirado é divinamente ordenado a falar, seja
homem ou mulher. Sara e Maria Madalena começam operar milagres.
Ambas seguem Jesus até o fim. Mesmo quando são jogadas
ao mar numa barca sem remos, sem velas e sem provisões com Maria Jacobé, Maria
Salomé, José de Arimatéia e Trofino. Mesmo quando caem as primeiras gotas
espessas de chuva. Mesmo quando a tempestade confundi o alto mar e as nuvens
negras. Mesmo quando as ondas jogam a nau mais longe e mais perto de virar. Todos
se desesperam e choram muito.
Sara retira o lenço (diklô) da cabeça, chamando por
Jesus e promete que se todos se salvassem, ela jamais andara com a cabeça
descoberta em sinal de respeito. Todos dão as mãos e oram fervorosamente.
Milagrosamente, a barca sem rumo aporta em Laquedor
(sul da França) e Sara cumpri a promessa até o final dos seus dias, quando é
encontrada morta pelos ciganos nas ondas primaveras de Saintes-Maries-de-La-Mer
em 24 de maio, com sua cabeça e seus cabelos cobertos pelo lenço e sua fé.
Jorge Barboza
Escritor e Colunista Social
(Este texto faz parte do livro "Entrefotos Cultura Cigana de Fatima Bessa disponivel em: http://clubedeautores.com.br/book/204592--Entrefotos_Cultura_Cigana)
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